sexta-feira, 20 de agosto de 2010

GLÓRIA EM DESTAQUE NESTE FIM-DE SEMANA


Edição de 19-08-2010

Festas em Honra de Nossa Senhora da Glória

De 20 a 23 de Agosto convívio e alegria com artistas tão diferentes como Quinta do Bill e Rosinha
Festa de Nossa Senhora da Glória com dança e música até partir

As festas começam a 20, sexta-feira, mas no dia 19 há Missa Solene em Honra de Nossa Senhora da Glória. É às 21h00. Se a padroeira dá nome à festa é justo que a primeira cerimónia seja dela. O outro momento religioso acontece domingo, dia 22. Uma outra missa marcada para as 16h00 a que se segue uma procissão.
Mesmo para os católicos a vida não é só rezar. O resto do tempo é para a folia. Na abertura, sexta-feira à noite, actuam os ranchos folclóricos. Os dois da terra. “As Janeiras” e o Rancho da Casa do Povo. Os convidados são o Rancho Folclórico “Ceifeiras e Campinos” de Azambuja e o Grupo Folclórico da Ponta do Sol que vem da ilha da Madeira. A noite continua com uma grande sardinhada, a actuação do grupo de dança “Dream-Dancing” e fecha quando já não houver mais pernas para dançar ao som do conjunto “Sentido Obrigatório”.E desde já fica o aviso que há baile todas as noites. Convergência, 4ª Audição e Manuel Monteiro & José Foguete, são os animadores de serviço.
No sábado chega a primeira Banda. É a dos Bombeiros de Salvaterra de Magos. Participa no hastear da bandeira nacional, às 16h00, tocando o Hino e a seguir dá um concerto. Mais tarde é para pular e cantar ao som das músicas brejeiras da cantora Rosinha. Para a meia-noite e meia está anunciada uma “Espectacular sessão de fogo de artifício preso e no ar”. A madrugada segue com o concerto dos K203.
Domingo, 22 de Agosto, também há fogo de artifício e música de qualidade com os “Quadrilha” e os “Quinta do Bill”. Mas isso é à noite, depois do jantar. Às 07h30. De manhãzinha, pela fresquinha, acontece a alvorada ao som da Banda Filarmónica de Santo Estevão e uma hora depois decorre o peditório para ajudar a pagar a festa.
O velhinho grupo de rock português “Táxi” começa a animar o povo na segunda-feira, dia 23, quando bater a meia-noite na torres da igreja. Antes deles dançam as Sevilhanas do grupo “Sonido Andaluz”. Nesse dia a banda filarmónica que dá concerto é a de Muge. Toca às 14h30. E é entregue a Bandeira da Festa à Comissão que a irá organizar em 2011.
Uma nota final. A Festa tem um programa alternativo no Palco Jovem, situado na Avenida. Concertos todas as noites a partir das 22h30. “The Pilinha” (Em vez do Pi usar o símbolo matemático, se faz favor), “Rock a Lady”, “Katharsis”, “Zé Beto e los Camaias” e “R12”.

A Rosinha do “Eu levo no pacote”
Os responsáveis da produtora discográfica “Moinho da Música” chamam-lhe “ A voz do povo”. É Rosinha, cantora de músicas brejeiras de gosto popularucho que põe toda a gente a pular e a cantar. Onde ela chega com as suas bailarinas não há parança. Na Glória do Ribatejo as festas vão ser animadas. Mas no dia em que ela canta, sábado, vai ser preciso fôlego extra.
Ar malandreco, sorriso cativante, acordeão ao pescoço, Rosinha vai cantar os seus maiores sucessos, a começar pelo mais recente “Eu chupo”. Gargantas afinadas para o refrão. “Eu chupo, eu chupo/E vou rodando para ele não pingar/Eu chupo, eu chupo/E no fim fico com o pau a brincar”. A canção é sobre gelados como se percebe logo, pois claro!
A carreira de Rosinha ganhou visibilidade em 2007 com um CD que tinha por título “Com a boca no pipo”. No ano seguinte saiu “Só quer é fruta”. O ano passado e este ano, a alegre e descarada artista anda pelo país a apregoar, alto e bom som: “Eu levo no pacote/Eu levo sim senhor/Eu levo no pacote/Tem outro sabor/Eu levo no pacote/P´ra gosto do meu amor”.
Para os interessados ficam algumas outras informações sobre outros gostos da cantora, retirados do site da Editora. Também gosta de andar de bicicleta e adora bacalhau. A sua cor preferida contrasta com tudo o resto. É o preto.

Museu de Glória do Ribatejo inaugura exposição sobre carroças no sábado, 21 de Agosto
Francisco Constâncio é um dos últimos habitantes de Glória do Ribatejo que ainda faz da carroça o seu principal meio de transporte

A égua Estrelinha segue a passo pela estrada fora em direcção à horta do seu dono a quem todos chamam “Chico Raiado”. Sentado na carroça o agricultor garante que ela só se assusta com os camiões.


Francisco Constâncio, 76 anos, puxa a carroça para o centro do amplo quintal de sua casa. De seguida vai buscar a Estrelinha, uma égua castanha que pertence à família há vários anos e que deve o seu nome a uma pequena mancha branca em formato de estrela no centro da cabeça. Segue-se o processo de atrelagem. A coelheira é colocada no pescoço do animal de modo a ficar preso à carroça. As correias apertadas à medida da barriga e as rédeas presas na carroça e no focinho do equino fazem parte do ritual diário do reformado.
“Chico Raiado”, nome pelo qual Francisco Constâncio é tratado pelos que o conhecem há muito tempo, é um dos oito habitantes de Glória do Ribatejo, concelho de Salvaterra de Magos, que ainda possui carroça e a utiliza diariamente. A Associação para a Defesa do Património Etnográfico e Cultural da Glória do Ribatejo inaugura sábado, 21 de Agosto, a exposição intitulada “As últimas carroças” que vai estar patente no museu da vila até Junho de 2011. Os responsáveis da Associação recolheram elementos ligados à utilização de carroças e fotografias antigas de pessoas que faziam das carroças o seu principal meio de transporte, recordações de outros tempos num tempo em que ainda continua a haver carroças no activo.
O antigo agricultor apoia a perna numa das rodas e, com destreza, sobe para a carroça e senta-se numa almofada que torna o assento de madeira mais macio. Durante os dez minutos que demora a viagem de carroça entre a sua casa e a horta é a Estrelinha que escolhe a velocidade a que quer seguir. Vai a passo. Nas calmas. Francisco Constâncio não a apressa. Segura nas rédeas e o sol bate-lhe na face tisnada. Fala da sua vida e de quando começou a trabalhar. Quando quer que a égua ande mais depressa ou devagar garante que não lhe bate. “Basta falar com ela e dar um jeitinho nas rédeas que ela obedece. É muito obediente”, revela.
O reformado está habituado a conduzir a carroça pelas estradas alcatroadas e cruzar-se com automóveis e motas. “A Estrelinha só tem mais receio quando os camiões passam por ela, de resto gosta de sair todos os dias”, conta a O MIRANTE. Chico Raiado que nunca teve automóvel. “Quando preciso sair da terra vou de táxi ou autocarro”, diz. “Só tenho carta de condução para tractores”.
Antigamente, quando trabalhava no campo, antes de comprar a primeira carroça, possuía uma junta de vacas e ia com elas para longe. A localidade de Fajarda, no concelho de Coruche, era um dos locais onde trabalhava. Levantava-se às cinco da manhã e demorava mais de três horas a chegar ao local de trabalho. Com a carroça não é muito mais rápido, mas o facto de ir sentado torna as viagens menos cansativas.
Francisco Constâncio já perdeu a conta ao número de carroças que já teve, mas garante que tem esta há mais de uma década. As rodas de madeira que se usavam antigamente foram substituídas por pneus. “Agora tenho uma carroça mais sofisticada”, brinca. Como qualquer veículo necessita de manutenção. “Quando os pneus rebentam tenho que ir à oficina para remendar”, esclarece.
Em relação à égua Estrelinha conta que não gasta dinheiro com a sua “manutenção”. Tudo o que o equino come vem da horta que possui perto de casa, onde cultiva tomates, feijão verde, couves, batatas, produz vinho, entre outras coisas. Tudo caseiro, garante. E para provar a veracidade do que diz oferece-nos um saco de tomates acabados de colher.

“Queremos mostrar aos mais novos como era a vida na nossa freguesia há 50 anos”
A Associação para a Defesa do Património Etnográfico e Cultural da Glória do Ribatejo foi criada há 24 anos. Segundo o presidente da Associação, Roberto Caneira, o seu objectivo é a recolha, estudo e divulgação do património cultural da localidade ribatejana. A direcção é composta por nove elementos. Todos os anos organizam uma exposição temática. Temas como o vinho, pão, guerra colonial e bordados a ponto cruz já estiveram em exposição no Museu da Glória do Ribatejo.
Os elementos da associação fazem a recolha do material a expor. Para a exposição “As últimas carroças” foram tiradas fotografias com os proprietários dos veículos e respectivos animais. De acordo com o levantamento efectuado existem, actualmente, oito carroças a serem utilizadas na Glória do Ribatejo. “Estamos a assistir ao fim de um ciclo uma vez que as carroças estão a ser substituídas pelos tractores. Queremos mostrar aos mais novos como era a vida na nossa freguesia há 50 anos atrás”, explica Roberto Caneira.

A banda, o convívio e a procissão … alguns empregos também davam um jeitão

A festa é bonita. A vila é a melhor do Mundo. As relações de vizinhança ainda são à moda antiga e o ambiente é tranquilo. E tudo podia ser melhor com mais empregos e alguns melhoramentos. Ficam as opiniões de quem sabe do que fala.

Podemos sempre contar uns com os outros

José Estaca, 65 anos, Glória do Ribatejo, Reformado

As festas em honra de Nossa Senhora da Glória são um motivo para José Estaca rever os amigos e conviver com eles. Ir às festas é uma tradição que José Estaca cumpre desde criança. “Enquanto puder ir não vou falhar. Aproveito para petiscar e beber uns copos enquanto converso com os amigos. Este ano não quero perder os Quinta do Bill. São dias diferentes em que sabe bem ficar na rua até tarde por causa das noites quentes”, diz.
Para o reformado o que torna a Glória a melhor terra de Portugal é a união da população, o acolhimento com as pessoas que vêm de fora. “Podemos sempre contar uns com os outros em situações mais complicadas”, esclarece. José Estaca considera que faz “muita falta” na Glória do Ribatejo emprego que estimule o desenvolvimento da freguesia. “Não existem postos de trabalho. Quem quer trabalhar tem que ir para fora e isso faz com que a vila vá ficando cada vez mais desertificada”, refere.

Fogo-de-artifício e procissão são os melhores momentos

António Modesto, 69 anos, Glória do Ribatejo, Reformado

António Modesto garante que não vai perder o fogo-de-artifício e a tradicional procissão em honra de Nossa Senhora da Glória. “São os momentos mais bonitos da festa que trazem muitos visitantes à terra”, diz. O antigo motorista afirma que vai “tentar” marcar presença no recinto das festas todos os dias para confraternizar com os amigos e divertir-se. “Se puder vou ver todos os artistas musicais”, refere, acrescentando que estas festas são muito importantes para o desenvolvimento da freguesia e também do concelho.
Um lar de idosos é o que, na opinião de António Modesto, faz mais falta à vila. “Temos um Centro de Dia, mas era importante que os idosos pudessem ficar internados, muitos não têm com quem ficar”, considera. “Somos pessoas sérias, honestas, bairristas e damos muito valor às nossas tradições”, justifica António Modesto quando questionado sobre o que torna a freguesia tão especial.

Não perco a chegada da banda e o hastear da bandeira

Laura Francisco, 73 anos, Glória do Ribatejo, Reformada

Depois de vários anos a viver no concelho de Coruche, Laura Francisco volta à sua terra natal. Este ano espera “ter saúde” para ir ver as festas em honra de Nossa Senhora da Glória. A chegada da banda da música e ver o hastear da bandeira nacional ao som do hino nacional são os momentos mais emocionantes da festa. “Também gosto muito de ver as actuações dos ranchos folclóricos”, afirma.
O bairrismo dos habitantes de Glória do Ribatejo e as suas tradições assim como a forma como são acolhedores com os de fora são, para Laura Francisco, os principais atributos que tornam a Glória uma vila “tão fascinante”. Na sua opinião faltam apenas mais espaços verdes para as crianças e idosos e um Lar a funcionar 24 horas por dia. “Em vez de estarem a fazer duas viagens diárias para irem buscar e levar os idosos eles ficavam cá de noite também”, refere.

Precisamos criar empregos na Glória

Joaquim Olaio Gomes, 63 anos, Glória do Ribatejo, Empresário

Joaquim Olaio Gomes aproveita o facto da sua casa ter vista privilegiada para o recinto das festas para observar e ouvir os espectáculos que lá se realizam. Mas nem por isso deixa de ver in loco as novidades. O empresário escolhe normalmente a noite de domingo para visitar o arraial. “Gosto muito de ver o fogo-de-artifício, os espectáculos musicais e a ornamentação das ruas”, explica, acrescentando que as festas trazem muitos “forasteiros” à vila e ajuda ao seu desenvolvimento.
Na sua opinião são as tradições muito antigas da Glória do Ribatejo e o facto de ser uma vila rural e muito calma, perto de cidades, que a tornam tão especial e única. Para Joaquim Gomes a câmara de Salvaterra de Magos devia apostar na colocação de indústria na freguesia. “Precisamos criar empregos na Glória para as pessoas continuarem a viver cá. É o que faz mais falta”, reflecte.

Não existe festa tão bonita como a nossa

António Nunes Pereira, 58 anos, Glória do Ribatejo, Cabeleireiro

António Nunes Pereira considera que é o facto de viver no campo, onde existe maior qualidade de vida que torna a vila de Glória do Ribatejo “uma das melhores” da região para se viver. O cabeleireiro garante que não perde um único dia das festas em honra de Nossa Senhora da Glória. Aproveita para estar com os amigos, petiscar e beber uns copos, apesar de garantir que este ano está mais “regrado”. António Pereira diz que não vai perder os espectáculos musicais que vão animar a vila. “Nos concelhos mais próximos não existe festa tão bonita como a nossa”, proclama.
Para António Nunes Pereira, a Glória do Ribatejo peca por ter ainda várias estradas da freguesia por alcatroar. “O Centro de Saúde é de grande utilidade, mas podia funcionar 24 horas por dia”, afirma.

Faz falta piscina, ATL e actividades desportivas

Quitéria Gregório, 51 anos, Glória do Ribatejo, Reformada

Quitéria Gregório aproveita as festas em honra de Nossa Senhora da Glória para conviver e rever os amigos e até familiares que estão longe e regressam à terra natal nesta altura do ano. A reformada confessa ser fã das festas da vila e além de conviver também gosta de dançar e ouvir os cantores que vão actuar. “Este ano os Quinta do Bill é o grupo que mais me desperta a atenção”, confessa.
Para Quitéria Gregório é a união das pessoas da terra que se conhecem “todas” e ajudam-se umas às outras sempre que é preciso que faz da Glória uma das vilas mais “castiças” do Ribatejo. Em relação ao que faz falta na freguesia, Quitéria aponta uma piscina, atelier de tempos livres e actividades desportivas para os mais novos. “Sem isto eles vão para mais longe sem necessidade nenhuma”, reforça.

Uma terra com identidade bem vincada


A origem do povoado de Glória do Ribatejo remonta ao século XIV, quando o Rei D. Pedro I manda edificar em 1362 uma igreja, como demonstra a lápide medieval ainda hoje presente na fachada deste templo. Em 1364, o mesmo monarca concede-lhe uma carta de privilégios, com enormes isenções e liberdades, com o intuito de facilitar o povoamento desta nova localidade.
Vivendo essencialmente da agricultura, pastorícia e outras actividades mais rudimentares, a Glória do Ribatejo desenvolveu uma cultura muito peculiar que sempre a distinguiu das restantes freguesias do concelho de Salvaterra de Magos.
Com uma identificação cultural muito marcante, construída no dia a dia desta população, ainda hoje é possível observar nesta povoação costumes ancestrais. Uma das razões apontadas para a preservação destes valores prende-se com a endogamia. No passado, ao evitar casamentos com outras pessoas de outras localidades, este povo conservou genuinamente os usos e costumes dos seus antepassados.
Apesar de ser assediada por outros valores, a Glória do Ribatejo soube sempre respeitar a sua identidade cultural, motivo pelo qual esta vila ainda hoje se orgulha de respirar tradição.

* Informação recolhida no site da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos - http://www.cm-salvaterrademagos.pt

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