domingo, 20 de fevereiro de 2011

"A MINHA GERAÇÃO"

Este é um artigo de opinião de Elizabeth Mendanha, 20 anos, residente na freguesia dos Foros de Salvaterra, estudante do ensino superior (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa).


O pessoal da velha guarda que eu conheço, da classe de 80, diz-me com muita frequência que pertenceram à “ geração fantástica”. Aos anos loucos. Ao terrível e brilhante descobrimento das coisas. O fugir à regra, o criar novos conceitos, o ultrapassar preconceitos e formar mentalidades. Havia um desequilíbrio que eu considero fascinante. Eu costumo pensar que o caos também deve ser encarado como uma forma de ordem.
Mas a minha geração não tem nada disto. Não é fascinante, não é louca, não rompe fronteiras. Somos uns bem ou mal acostumados com a vida, uns comodistas de primeiro grau. Temos ao nosso dispor os porquês de tudo. Sabemos quase tudo o que há para saber e não tiramos proveito de nada. Vivemos na era da verdade e somos uma geração que pertence a uma sociedade de mentira.
À nossa volta existe um mundo de exemplos concretos, de testemunhos, de informação e de experiências, mas fechamos os olhos aos dados e situações óbvias. Optamos quase sempre pelo mais fácil, pelo que está mais perto e pelo que mais rapidamente podemos atingir. O difícil dá trabalho e o trabalho cansa, e nós não gostamos nada de ficar cansados.
As nossas prioridades já não são escolhidas pelos nossos sonhos mas sim pelo que nos dá mais jeito. Fazem-nos falta os sonhos, fazem-nos faltas utopias! Faz-nos falta rebentar portas e saltar janelas, ao invés de procurar a chave para a fechadura. Somos meninos da mamã e do papá, pequenos cangurus que só saltam na bolsa da mãe.
Somos uma malta complicada. Com um mundo de oportunidades e acessibilidades, falta-nos o espírito do rock n’roll, aquela azáfama de experimentar coisas novas, de viver novas sensações e de lutar por um mundo melhor, sem medos!
Mas avaliando as coisas pela outra parte – o mundo que nos rodeia – quais são realmente as motivações que nos dão? O desemprego cresce, até para os que estudam. A Igreja tropeça em escândalos, vive em permanente conflito com a sociedade. Os nossos governantes não nos fomentam esperança, atormentam-nos com constantes mentiras ou verdades menos absolutas. As doenças sexualmente transmissíveis espalham-se por todo o lado, mesmo vivendo nesta era da informação. Os grandes criminosos passam ao lado da Justiça e os pequenos são os “ que se lixam”. Ensinam-nos a não mentir, mas quando dizemos a verdade somos censurados. Ensinam-nos a ser pessoas sérias, mas quando o somos, deixamos de ser “ fixes” para a nossa sociedade. É a lei do mais forte, a lei da selva. E na lei da selva só resistem os bravos, e para ser bravo há que ter coragem e isso – volto ao ponto inicial – dá muito “trabalhinho”! Como cantam os The Who na música “My Generation”, eu cá “ espero morrer antes de ficar velho ( falo da minha geração)”! 


2 comentários:

  1. E é esta a direcção, o rumo que a vida vai tomando que nos ilude com uma certa destreza implacável, que nos ilude, pensando que tudo corre sobre rodas mas na verdade não corre, anda só (e devagarinho). A colisão das gerações é inevitável no seio das famílias portuguesas quando estas se encontram e cada um começa a defender de forma acérrima a sua! De facto, os tempos são diferentes entre elas...as vivências, costumes, liberdades, tecnologias. Na verdade vivemos num paradoxo curioso, senão vejamos: com o decorrer dos tempos, evoluímos para algo melhor, novas tecnologias, novas modernices, de facto.Mas olhamos para trás, e nem precisamos de rodar muito a cabeça, para nos apercebermos que perdemos muito dos pequenos e ao mesmo enormes pormenores das gerações anteriores que mostram à de hoje que estão uns furos bem acima. Sentimo-nos com vontade de experimentar, por pouco tempo que seja, como seria viver naquele tempo, ter aquelas dificuldades e poder superá-las. Sim, porque quanto maior for a adversidade superada por nós mesmos melhor é o sabor da vitória e é isso que nos tem vindo a faltar cada vez mais...esse sabor, que alguns infelizmente nunca provaram.

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  2. O problema destes meninos é que têm muitas coisas sem nada fazerem para isso... têm mais do que merecem.. mas as coisas infelizmente as coisas vão mudar, quando chegarem a adulto.. mas é a vida.

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