domingo, 27 de março de 2011

"DESCOBERTA" DE POVOADO PRÉ-ROMANO DE PORTO DO SABUGUEIRO (MUGE)


A detecção fortuita de importantes vestígios arqueológicos colocados a descoberto pela realização de trabalhos agrícolas, terão motivado um estudo aprovado pelo IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico)., há cerca de 3 anos, e que visou a prospecção arqueológica de alguns locais situados na margem esquerda do Rio Tejo, perto de Porto do Sabugueiro, freguesia de Muge, concelho de Salvaterra de Magos.
João Pimenta e Henrique Mendes no artigo que publicaram em 2008 na Revista Portuguesa de Arqueologia afirmaram: "Estamos perante uma área com grandes potencialidades arqueológicas e patrimoniais e face aos resultados das prospecções com uma lata dicotomia de ocupação, que se estende ainda que com hiatos desde o Neolítico até à Antiguidade Tardia. Os dados mais substanciais reportam-se à ocupação da Idade do Ferro. Ainda que estejamos a lidar com informação proveniente de recolhas de superfície, o volume dos materiais recolhidos e a sua análise cuidada, permitem supor estarmos perante a área de um antigo povoado de cariz portuário".
Aqueles autores no enquadramento arqueológico que fizeram referem:
  • Mário de Saa (1956) [obra sobre as vias da Lusitânia] - "No Porto do Sabugueiro, 5 Km, acima, há, nas barreiras do Tejo, importantes vestígios de povoação romana, visíveis na margem esquerda e, sobretudo, quando as enchentes do rio as revolvem. Mostram-se, então, bancadas de entulho, vasos cinerários, moedas romanas (...)".
  • Dr. Bairrão  Oleiro (1960-61) [Revista Conimbriga] - "Em diversas ocasiões se haviam recolhido materiais romanos no Porto do Sabugueiro, materiais esses que podem admirar-se em vitrinas no palácio do Cadaval, em Muge: fragmentos de ânforas, pondera de barro, suportes triangulares de cerâmica e algumas moedas  dos séculos III e IV d.C. (...)". O pavimento em mosaico com cerca de 5 m2, posto a descoberto por essa altura em resultado de trabalhos de plantação de vinha pela Casa Cadaval, foi classificado por este Professor de Coimbra como um pavimento da época Tardia, possivelmente de finais do século III d.C.
  • Dr. Jorge de Alarcão (1963) efectuou sondagens arqueológicas neste local, que colocaram a descoberto o mosaico e detectaram  a cerca de 200 m o resto de um forno de produção cerâmica. "Na sequência desta campanha classifica-se esta estação [arqueológica] como uma villa romana, villa esta que em meados do século I d.C. teria uma área de produção oleira com alguma dimensão".
Dizem ainda aqueles autores que para além desta conhecida presença romana no local, alguns elementos dispersos levavam a suspeitar da existência de uma eventual ocupação anterior, pré-romana. 
Os autores deste artigo, nas considerações finais do mesmo referem explicitamente: "O povoado do Porto do Sabugueiro, aparentemente de média dimensão, poderia assim ter uma tripla vertente: agrícola, piscatória e portuária. A sua vertente de porto natural deveria prender-se com a importância da navegação de um Tejo então muito diferente, sendo este o melhor meio para o escoamento das riquezas agrícolas e pecuárias. Temos também de ter em conta que no Porto do Sabugueiro se situa um dos pontos de travessia natural do rio". (...) "Em jeito de conclusão, importa ressalvar que um dos elementos mais perturbantes, resultantes da realização deste trabalho, foi precisamente a constatação da importância arqueológica de toda esta extensa área de terrenos do Porto do Sabugueiro e Benfica do Ribatejo e do estado de ameaça de destruição a que estes estão sujeitos".

Acrescento eu, como já tivemos oportunidade de referir - quando da classificação dos Concheiros de Muge como monumento nacional - vai ser preciso criar um espaço museológico que estude, interprete e valorize o nosso património arqueológico.

(Nota: Como não tenho formação na área peço desculpa por qualquer omissão ou incorrecção na interpretação do texto daqueles autores)

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