"Já há, creio, suficiente afastamento para – com isenção e distanciamento ideológico – os historiadores estudarem e escreverem sobre as conquistas alcançadas com o 25 de Abril de 1974 e o que distingue a nossa vida antes e depois dessa data. Não ouso pois fazer um levantamento exaustivo das dificuldades por que alguns – infelizmente muitos – portugueses passaram – fome, guerra, privação da liberdade, condenação por delito de opinião, segregação por condição social, desregulação do mercado de trabalho e muitas outras limitações que nos isolaram do Mundo e nos deixaram - ainda que orgulhosamente [dizia-se à época] – sós.
De lá para cá muitos erros têm sido cometidos – alguns exageros resultantes de um processo conturbado de fim de um regime, disparates de gestão causados pela impreparação para governar, excesso de entusiasmo de a tudo acudir mesmo em ambiente de escassez de recursos, para além de oportunismos vários e de facilitismos que têm punido significativamente as finanças públicas.
Mas mesmo quando muitos já duvidam da viabilidade de Portugal enquanto País, a verdade é que a democracia e a liberdade são elementos agregadores de uma Nação que não aprendeu ainda a partilhar o Poder e que se divide em tribos partidárias.
Diversos dos nossos tradicionais actores políticos ainda usam o Poder em vez de o servir! Esta tem sido uma das razões que leva as pessoas a descrerem da vida política. Cresce o alheamento e a desconsideração pelos que exercem esta actividade. Este condicionamento social é responsável pelo afastamento [da política] de muitos jovens e intimida os que de entre nós têm maior mérito e competência, fazendo com que não coloquem o seu saber ao serviço do bem comum.
Não é possível mobilizar sem acreditar. É pois enorme o desafio que, 37 anos depois do 25 de Abril de 1974, se nos coloca. Como catapultar Portugal, e em particular o nosso concelho de Salvaterra de Magos, para os padrões de desenvolvimento que ambicionamos, quando temos pela frente um período com muitas dificuldades e contrariedades no qual todos vamos estar envolvidos, embora nem todos acreditem na terapia?!
Ajudaria a minorar o sofrimento das pessoas se se pudesse consensualizar uma terapêutica, pois haveria uma luz ao fundo do túnel. Não prevejo que assim aconteça pois está na essência da estratégia dos partidos políticos, ainda mais em período eleitoral, acentuar divergências, promover clivagens, distanciarem-se uns dos outros.
Esta é a realidade e estes são os comportamentos expectáveis que, em minha opinião, não devem ser criticados, pois em democracia cada um de nós pode decidir como agir. Cabe ao Povo, em cada momento, avaliar a situação, ponderar as propostas, apreciar as equipas e escolher.
Estas são as regras que o 25 de Abril de 1974 nos proporcionou, as quais espero – apesar das dificuldades que há em governar o País em minoria – nunca sejam postas em causa! A essência é a liberdade, a governabilidade cai na esfera do bom senso.
Vamos ser capazes!..."
Sem comentários:
Enviar um comentário