sexta-feira, 13 de maio de 2011

QUALQUER SEMELHANÇA COM A REALIDADE NÃO É MERA COINCIDÊNCIA

Foi publicado, na última edição do jornal FUNDAMENTAL, um artigo de opinião intitulado "Não devia valer tudo", que seguidamente se reproduz, e que se encontra também disponível no link http://www.jornal-fundamental.com/noticias_show.htm?noticia=1143&title=N%E3o%20devia%20valer%20tudo.
Vivemos tempos que decorrem bem mais depressa do que a capacidade que cada um de nós tem para se adaptar.
Envelhecemos, perdemos vontade(s) e não nos apercebemos disso. Só quando nos confrontamos com as limitações físicas é que alcançamos o quanto tudo mudou. O mesmo aconteceu à jovem democracia portuguesa. Está mais velha, menos valorizada. Em vez de praticantes tem adeptos. O espírito “desportista” de quem a ama e por isso a pratica foi substituído pela paixão, pela irracionalidade [dos adeptos]. As regras são preteridas, o que conta é vencer. Os “nossos” são os que estão connosco, todos os demais são os “outros”.
Em tempos, o exercício do poder democrático já teve em conta e já condenou o eleitoralismo (obras em cima das eleições), já puniu os que recrutavam apenas entre os “nossos” (desconsiderando os “outros”), já se insurgiu com o quero, posso e mando (vulgo autoritarismo), já clamou por competência (em vez de fotogenia), já se importou mais com governar ou em ser solução de governo (do que em opor ou apenas maldizer), já primou pela separação entre poder político e económico, pela distinção entre informação e opinião, já teve princípios e normas de conduta. Mas rapidamente se percebeu que o caminho para a vitória tinha de ter menos “rigidez”. Preferimos omitir que a democracia implica responsabilização, exige cidadania e respeito pelo próximo. Com indiferença e nalguns casos até com entusiasmo permitimos que se apossassem do(s) poder(es) democrático(s) muitos que sempre desrespeitaram a democracia, dela abusaram e nunca a serviram. Para esses o exercício do poder é apenas a forma de subsistência pessoal que encontraram – vários deles porque não tinham outras competências ou atributos – o que fica muito aquém da missão, da visão e da função de representação que a democracia confere.
É neste enquadramento que no exercício do(s) poder(es) democrático(s) permanecem alguns pequenos ditadores, no masculino e no feminino, pessoas como nós, nossos vizinhos, impreparadas para liderar, empurradas pelas circunstancias e pela irresponsabilidade para gerir e pensar um território, o que extravasa largamente as suas capacidades. Muitos reconhecem-no, rodeiam-se de saber, promovem o debate e o contraditório, ouvem, aprendem, estudam e decidem. Mas outros há que por ignorância, despotismo e ambição pessoal, centram em si toda a informação, afastam os melhores preparados, rodeiam-se de interesses e subserviências, de vínculos pessoais, punem os que questionam e tentam, combatem ferozmente – regra geral pelo insulto e maledicência – os que, em cada momento, se afirmam como adversários. O objectivo de todas as suas acções é eternizarem-se no Poder. Em alguns casos não há sequer pensamento estratégico, um caminho a seguir, a mobilização de pessoas para um trajecto comum, o que há é propaganda, a criação de uma personagem afável e vendável e a utilização dos recursos públicos para cimentar aquela imagem. Muito pouco!



Estas ditaduras que germinam no interior dos regimes democráticos, usam o que de mais negativo a democracia permite – uma absoluta impunidade para quem incumpre com as regras democráticas – causando muitos danos às pessoas porque, temendo represálias, auto limitam a sua liberdade de expressão e de associação, principalmente em meios mais pequenos onde muito do que acontece depende do(s) poder(es) político(s). Estas gestões totalitárias não são denunciadas porque tudo se confunde com o debate, ou o combate, político. Os juízes não valorizam e por isso não apreciam atropelos à democracia, os cidadãos descrentes da vida política encolhem os ombros e os jornalistas de âmbito local e regional não têm meios, nem tempo, para fazer jornalismo de investigação.
Estamos num círculo vicioso, pelo menos enquanto a inobservância das regras facilitar a vitória e premiar os infractores!
Que fazer então?! Formar (melhores) cidadãos parece ser a terapia que qualquer clínico recomendaria! A dúvida, no entanto, é se com aquele limitado – e sobretudo lento - poder terapêutico ainda será possível salvar o que resta do regime democrático?!...
Até lá prosseguirá o afastamento das pessoas do exercício do(s) poder(es) democrático(s), o alheamento dos jovens que, de um modo geral, preferem continuar apolíticos, o compadrio, a gestão dos cadernos eleitorais para admissão (ou demissão) de estagiários e contratados a termo, ou pelos montantes dos subsídios atribuídos (ou a atribuir) às Associações e colectividades de interesses.
As mãos omnipresentes deste(s) poder(es) revelam-se omnipotentes, pois nada se pode fazer ou dizer sem a sua chancela. Alguns destes subprodutos do regime democrático chegam a procurar obter “rendimento” político de meros e rotineiros actos administrativos. Optam por os travar, por centralizar em si a decisão final e, pasme-se, por causa da sua inacção obrigam os interessados (os munícipes são também eleitores) a pedir “in situ” o deferimento que tarda. Vinculam-se pessoalmente, resolvem o problema que intencionalmente criaram e as pessoas - que desconhecem as tramitações dos processos – ficam-lhes reconhecidas.
Estamos na presença de “impostores” bem sucedidos que, democraticamente, escolhemos!...                                              


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