segunda-feira, 3 de setembro de 2012

MARINHAIS EM 1939


Em Abril de 1939 é editado e publicado pelo Jornal Ilustrado Português "A Hora", sob a direcção de Bandeira de Tóro que, pela sua relevância histórica seguidamente se reproduz.


"Marinhais data de fundação relativamente recente, um século, quando muito; mais conhecida noutros tempos por Foros de Muge, esta designação esclarece-nos melhor a fórma como se constituiu a povoação.
Fazendo esta área de terreno parte da Freguesia de Muge - sob a forma de baldio - foram habitantes de Muge que aforaram  aqui as primeiras terras.
Seguidamente estabeleceu-se a emigração de indivíduos do Concelho de Soure e de Pombal, provavelmente atraídos pela fama de fertilidade destes terrenos que, na verdade, são férteis,  pois, foram em épocas geológicas remotas, submersas pelas águas do Tejo.
Cada colono, ao estabelecer-se recebia uma determinada parcela de terreno, onde construía uma casa e se fixava.
E, por este processo de colonização, se explica a dispersão da Freguesia de marinhais; cada colono de antigamente e cada fogo de hoje está em contacto directo com a sua granja e póde tirar dela um proveito maior; mas o Povo de Marinhais perdeu, assim por via das circunstâncias, um dos mais belos atributos do homem: o instinto da sociabilidade.

(João Pinto de Figueiredo)

  A Freguesia de Marinhais, situada na margem esquerda do Tejo, estende-se no sentido oriental, numa distância de 8 quilómetros, e no sentido norte-sul, numa distância de 7 quilómetros, compreendendo a sua área 5600 hectares aproximadamente.
Possue cerca 800 fogos e 3500 almas. Sob o ponto de vista agrícola, Marinhais é um ótimo centro de produção, predominando a cultura do milho, da batata, hortaliças, centeio, feijão, vinho, madeiras e lenhas. O vinho é de boa qualidade, principalmente o vinho branco, muito equilibrado e saboroso. 
Marinhais é um Povo trabalhador por excelência e tem a vocação instintiva das culturas e do labor da terra; e assim três ou quatro indivíduos unem-se em sociedades, fazem a sua seara de arroz - seara dispendiosa, nem sempre compensadora, onde o Povo de Marinhais põe á prova o seu entusiasmo na lavoura.


Marinhais possui actualmente 2 fábricas de moagem de farinha em rama, uma fábrica de artigos de bicicleta, duas fábricas de tijolo e de telha portuguêsa, e alguns estabelecimentos comerciais.
Tem caminho de ferro que atravessa a Freguesia e cuja estação fica a pouco mais de um quilómetro do mais importante núcleo populacional, onde se encontra a igreja, farmácia e principais estabelecimentos comerciais.
O òrago da sua Capela é S. Miguel, realisando-se anualmente festejos religiosos em sua honra. Marinhais é há pouco mais de um ano, séde de um Partido Médico Municipal, antiga aspiração desta terra.
Esquecida dos Poderes Públicos, no respeitante ao problema da Instrução Popular, não possue um Edifício Escolar próprio, sendo talvez a única Freguesia do Distrito nestas condições. O Recenseamento Escolar acusa a existência de 500 crianças quando apenas existem duas salas , onde 2 professores dão aulas a um número excessivo de alunos.


Tem Marinhais o seu mercado mensal no 3º domingo de todos os mezes, sendo o melhor do Concelho e um dos mais concorridos do Distrito de Santarém.
Possue uma estação Postal, sendo uma legítima aspiração de Marinhais ter uma cabine telefónica que a ponha em contacto directo com a Séde do Concelho pelo menos. De aspiração vaga não tem ela passado até hoje, mas é justo que as entidades oficiais satisfaçam esta pretensão.
Finalmente, Marinhais é, sem sombra de dúvida, uma terra ainda em formação, a que está reservado um futuro de maior prosperidade, já pelo seu acréscimo de população, já pela sua vida agrícola e empresarial , dia a dia com vizível incremento."

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