terça-feira, 23 de outubro de 2012

BREVE APONTAMENTO, DE 1939, SOBRE A GLÓRIA


Em Abril de 1939 o Jornal Ilustrado Português “A HORA”, sediado na Rua do Século, 150 em Lisboa, sob a direcção de Bandeira de Toro, publicou vários tomos sobre o Distrito de Santarém.
O pequeno apontamento que seguidamente reproduzimos na íntegra, integra o tomo alusivo ao concelho de Salvaterra de Magos numa altura, recorde-se, em que existiam apenas as freguesias de Marinhais, Muge e Salvaterra de Magos.


“Glória ou Nossa Senhora da Glória é uma povoação pertencente à Freguesia de Muge, Concelho de Salvaterra, Distrito de Santarém, embutida em uns terrenos que pouco demoram de Muge, que se avista da linha do Caminho de Ferro, que vai da Agolada para Marinhais e a pouca distância da estrada que vai de Coruche para Santarém, donde, porém se não avista.
De fundação antiga deve de ser muito coeva dos primórdios de Muge que as investigações científicas dão como logar onde habitou o homem terciário, por nêle terem sido encontrados bastantes instrumentos de pedra lascada.
Referindo-se a esta povoação (Glória) diz Pinto Leal no seu “Portugal Antigo e Moderno” que existe lá a formosa Igreja de Nossa Senhora da Glória, e que segundo a lenda a Imagem desta Senhora apareceu a D. Pedro I, em uma ocasião em que ele por ali andava à caça, livrando-o de afogar-se em um grande pego, que havia nesta charneca, e que em reconhecimento o dito Rei lhe mandou fazer aquele templo, dando à Virgem o nome de Nossa Senhora da Glória, pelas muitas luzes e resplendores de que estava cercada no acto da aparição. Sobre a porta principal, diz-nos ainda o citado historiador, está uma inscrição em letra gótica que já mal se pode ler.
Parece que se vê 1360, e se é esta a data, era certamente no reinado de D. Pedro I, que principiou a reinar em 1357.
Diz-se que a Senhora apareceu no logar onde está a Capela-Mór, sobre a mesma peanha em que ainda se conserva. Tem 0,25 de altura e é de roca. O templo é vasto e magestoso mostrando ser obra real.
O sítio é tão deserto que 12 quilómetros em redor não há povoação nenhuma; mas junto á Igreja há um aldeia. Em frente da Igreja há vasto terreiro , arborizado, com algumas casas para pousada dos romeiros.
E eis o que a história nos reza desta povoação. Actualmente a povoação encontra-se bastante aumentada em casaria. Tem uma boa Escola de construção que não é recente.
As charnecas também se acham, em grande parte, reduzidas por muito as terem já arroteado.
A maior riqueza do sitio é sem dúvida a dos gados, se bem que se encontra bastante dessimada, isto é, dispersa por quasi todos os moradores.
O gado, por exemplo, vacum de 2 ou 3 dos maiores lavradores de Coruche, talvez suplante o número de cabeças do mesmo gado existente na Glória.
Em tempos idos, antes do aparecimento das camionetas, quando em Coruche se via passar carros-chiões carregados de cortiça a caminho do Porto de Salvaterra, dizia-se: “lá vão os carros da Glória”.


Os usos e costumes do povo são ainda um pouco primitivos, sendo frequentíssimo ou quasi geral vermos as mulheres com lenços brancos ou amarelos atados em roda da cabeça e com saias de estamanha com os cós em volta do pescoço tapando-as à laia de capas curtas a longo do corpo.
È um autêntico trechozinho de Portugal de há dois séculos, num centro de progressiva civilização, possuidor de alma, de consciência, de individualidade própria e absolutamente orgulhosa da sua qualidade de membro desta nação imortal e gloriosa.”.

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