A
actividade humana é em grande medida a responsável pelo desaparecimento de
metade da Grande Barreira de Corais, património mundial da UNESCO, que se
localiza junto à costa australiana. O principal factor é a elevação da
temperatura da água em razão das alterações climáticas que nas últimas décadas
atingem o nosso planeta.
"Acredito
que o estudo provocou o efeito de uma onda de choque em muitos lares na
Austrália", declarou o ministro do Meio Ambiente, Tony Burke, num discurso
na emissora estatal ABC.
O
governo de centro-esquerda tem tomado medidas de preservação, mas "não há
dúvida de que houve negligência durante décadas", acrescentou.
A
Grande Barreira de Corais perdeu mais da metade dos seus corais nos últimos 27
anos sob a influência de fatores meteorológicos (tempestades), clima
(aquecimento) e industrial (nitratos agrícolas), de acordo com o estudo
publicado na revista americana Proceedings
of the National Academy of Sciences.
E
o recife pode continuar a deteriorar-se nas mesmas proporções até 2022, se nada
for feito para proteger os corais, afirma o documento que sintetizou nada mais
nada menos do que 2.258 trabalhos científicos.
Os
ciclones - 34 no total desde 1985 - são responsáveis por quase metade (48%) da
degradação, seguido pela Acanthaster púrpura (42%), uma estrela do mar invasiva
e predadora também chamada de "coroa de espinhos", que devora os
corais, e o branqueamento associado ao aquecimento do oceano.
Os
corais são o lar de milhões de algas que lhes dão cores e não suportam a
elevação atual da temperatura da água. Quando essas microalgas morrem, o coral
perde a cor e morre de fome, tornando-se um esqueleto calcário.
"A
perda da metade da cobertura coralina original é uma fonte de enorme
preocupação porque é sinónimo de perda de habitat para dezenas de milhares de
espécies" marinhas, avaliaram os investigadores.
Dois
outros graves episódios ocorreram em 1998 e em 2002, relacionados com o aumento
da temperatura dos oceanos, e tiveram "um impacto nefasto de grande
magnitude", em particular nas porções centrais e setentrionais.
Trabalho
de reconstrução é ainda possível
No
entanto, um dos autores do estudo, Hugh Sweatman, afirma que a barreira tem a
possibilidade de se reconstituir. "Mas a reconstituição leva entre 10 e 20
anos. Atualmente, os intervalos entre os problemas são curtos demais para uma
reconstituição completa", disse.
Património
Mundial pela Unesco em 1981, a Grande Barreira de Corais estende-se por cerca
de 345 mil km² ao longo da costa leste da Austrália, e é o maior conjunto de
recifes de coral do mundo, com 3.000 "sistemas" de recife e centenas
de ilhas tropicais. Abriga 400 espécies de corais, 1.500 espécies de peixes,
4.000 espécies de moluscos e muitas espécies ameaçadas de extinção, como o
peixe-boi e a tartaruga verde.
Os
recifes de coral geram dezenas de milhares de milhões de dólares em receitas de
turismo a cada ano em todo o mundo e a questão da preservação é tão ecológica
quanto económica, ressaltou Tony Burke. "É por isso que temos a
responsabilidade de cuidar muito bem deles, e este estudo é um lembrete de que
não podemos deixar as coisas como elas estão", disse.
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