quarta-feira, 28 de novembro de 2012

OVERDOSE(S)


Somos todos os dias expostos a um conjunto de intervenções, opiniões e análises que dissecam a nossa vida económica, identificam problemas, sublinham dificuldades, desvalorizam acções, métodos, esforços e sacrifícios, e acabam por contribuir, a par do desemprego e das crescentes dificuldades das famílias, para baixar a auto-estima nacional e para uma descrença generalizada. A informação é sempre importante, até porque prepara as pessoas para melhor decidirem, mas não estaremos na presença de uma overdose?!...
Esta auto-flagelação não é um dado novo, nem é uma característica que atinge apenas os últimos governos de Portugal, é algo que vem de tempos imemoriais e que já Luís de Camões identificou, no canto IV dos Lusíadas, quando criou a personagem do “Velho do Restelo”.
Vivemos momentos muito difíceis, os empregos escasseiam e a qualidade de vida das pessoas cai a olhos vistos, mas nem isso foi suficiente, até agora, para que os diversos actores políticos e/ou parceiros sociais conseguissem estabelecer (ou fazer perdurar) uma plataforma de entendimento mínimo!...
Se verificarmos, com atenção, todos os que hoje estão do lado das análises críticas encontramos:
  • Revolucionários, cujo ideário visa construir um dia-a-dia sem liberdade económica, sem iniciativa privada;
  • Ultra-liberais que pretendem diminuir impostos, reduzindo também o Estado e os apoios sociais;
  •  Anarquistas e grupos de acção radical que usam a violência como arma de intimidação e de condicionamento dos outros;
  • Capitalistas dos serviços e da distribuição que precisam do consumo interno para realizar os seus negócios;
  • Opositores, os que em cada momento se opõem, garantindo desse modo (?) a alternância democrática;
  • A maior parte dos portugueses que vê os seus rendimentos e os empregos diminuir;
  • Classes profissionais – entre muitos outros - que vão sendo afectadas pelas enormes medidas de austeridade.

Ou seja, não é possível colher o consenso (bastante) entre aquilo que uns e outros dizem defender, temos por isso, de facto, um problema!


Creio que só se insistirmos na diplomacia económica e sublinharmos a contenção/elevação democrática do nosso Povo poderemos evidenciar que temos das melhores condições à manutenção, fixação e instalação de empresas. O caso da Autoeuropa, apesar de todas as contrariedades do mercado, é um exemplo de que os entendimentos mínimos são possíveis e são desejáveis, a bem do colectivo.
Não há empregos, sem empreendedores e sem empresas, e os que decidem “arriscar” e investir só o farão se estiverem reunidas algumas condições, entre elas, seguramente, alguma tranquilidade e estabilidade social, mas também factores de atractibilidade do País e das regiões, como sejam menos impostos e taxas sobre as empresas que criem emprego, menos burocracia, maior eficácia judicial, etc.
Se todos tentarmos valorizar de algum modo o que temos de positivo talvez fique mais fácil vencer os problemas!...
Infelizmente o desânimo é enorme, as famílias mais afectadas por esta crise são muitas, o Governo eleito há ano e meio perdeu (desbaratou), em grande medida, a confiança dos portugueses, não quis (ou não soube) mobilizá-los para este desafio mas, mesmo assim, se não formos nós a acreditar em nós, quem o fará?!

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