Uma simples sessão de diversas injecções de dois vectores genéticos é o que
basta para curar a diabetes em animais de grande porte, sugere um estudo
apresentado por cientistas da Universidade Autónoma de Barcelona (Espanha), que
lideram um vasto grupo internacional que experimenta há anos esta opção
terapêutica.
O grupo usou agulhas simples – semelhantes às usadas
para tratamentos cosméticos – nas patas traseiras de cães que padeciam da
doença. A injecção introduziu-lhes genes com dois objectivos: para expressar os
genes da insulina (a substância em falta em qualquer diabético, que a tem de
inocular várias vezes por dia) e, por outro lado, para expressar uma enzima que
actua como regulador da captação de glicose no sangue. O resultado superou as
expectativas, disse Fàtima Bosch, a coordenadora do grupo catalão, à revista
científica Science Daily: «O estudo é a primeira demonstração de cura da
diabetes a longo prazo num modelo de animal de grande porte, através da terapia
genética».
O grupo controlou os níveis de glicemia dos animais ao
longo de quatro anos. Além de não terem apresentado mais sinais de
hiperglicemia (excesso de açúcar no sangue) ou de hipoglicemia (carência
perigosa de glicose), os cães apresentavam melhores resultados, quer em jejum,
quer depois de alimentados. Mais: atingiram níveis de normoglicemia (valores
normais de glicemia no sangue) mais depressa e de modo contínuo, quando
comparados com outros cães só tratados com inoculações diárias de insulina.
Ao fim de quatro anos, não apresentaram mais sinais da
doença. O grupo abriu, assim, uma pequena porta de esperança, que não se vai
traduzir já em resultados para seres humanos. Ainda falta fazer os testes em
animais de laboratório mais semelhante geneticamente a nós e esperar resultados
com igual eficácia.
Ao contrário da diabetes tipo 2 – a que conta maior
incidência no mundo –, que geralmente dá sinais em adultos ao longo de uma vida
de excessos alimentares, a origem da de tipo 1 é desconhecida, sabendo-se
apenas que consiste numa falha do sistema imunológico, que ataca as células do
pâncreas que produzem a insulina até esta deixar de ser fabricada
‘naturalmente’ no organismo (daí a insulinodependência deste grupo de
diabáticos).
Quanto à experiência de Barcelona, ela não deixou de
ter uma coincidência curiosa: em 1921 os canadianos Frederick Banting e Charles
Best descobriram que a inoculação de insulina num cão era um tratamento eficaz
contra a diabetes tipo 1. No ano seguinte, experimentaram-na com sucesso em
Leonard Thompson, um diabético de 14 anos.
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